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a Humanidade caminha, fase por fase, ciclo criativo após ciclo destrutivo, como se vê nas plantas.
Quando a era é de dor e de destruição, mergulhamos nos “Tempos de Kaliuga”. Como agora, dizem eles.
Nos Tempos de Kaliuga a escuridão se instala no mundo. A Ética se esconde, horrorizada, e o Mal se impõe. Filhos matam pais, pais violentam filhos, amigos se traem apenas por cobiça ou prazer, velhos e crianças são abandonados sem dó, a corrupção é exaltada, as regras se invertem e se alteram a todo momento e a mando dos poderosos, a mentira se veste de verdade e engana os cegos e os surdos, o dinheiro afasta os deuses e toma o seu lugar…
Dá medo, viver nos Tempos de Kaliuga. A destruição é sempre temida e evitada. Nós não aprendemos, no Ocidente, a aceitar o movimento, os ciclos e a roda eterna da existência, onde é preciso morrer para renascer.
Não aceitamos que a Morte, que nos parece terrível e injusta, é necessária à continuidade da vida, como se fosse um alimento que nutre.
Isto não vale apenas para o corpo físico, é claro. Por exemplo: nenhum ensinamento novo cabe numa mente saturada de certezas antigas; primeiro é preciso desapegar-se das convicções para que perguntas grávidas de novos caminhos façam morada na mente e nos levem avante.
Nós confundimos felicidade com busca de prazeres, nós nos cercamos de objetos brilhantes e barulhentos como as nossas grandes casas, nossos carros caros, nossos cargos de poder… e depois vamos a um Psiquiatra em busca da medicação de alívio para o tédio e a depressão.
Esta é, a meu ver, a essência dos ensinamentos sobre os Tempos de Kaliuga: eles não devem ser tempos de medo. Porque é o medo de aceitar que a Felicidade mora no equilíbrio entre o Bem e o Mal, entre a Vida e a Morte que nos faz temer tanto as mudanças e o processo de aprender.
Com medo de perder as certezas e abrir espaço para a Sabedoria é que nos apegamos tanto a coisas e pessoas, numa imobilidade que prolonga a dor da perda e a faz maior do que os ganhos que sempre advém de perdas.
E assim, a Morte tão temida se instala e se prolonga, nos legando uma meia-vida de meia-felicidade!