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Dessa vez envolve crianças numa creche e um vigia que nem deveria estar lá naquele horário.
Ele é dado pela mídia como doente mental, talvez um esquizofrênico paranoico, ou seja, um doente mental que tem delírios de perseguição.
Talvez as vozes lhe tenham ordenado que salvasse as criancinhas vítimas da vida dura no “triângulo da seca”.
Talvez o seu pai, que morrera no mesmo dia da tragédia, há 3 anos, lhe pedisse que levasse companhia para morarem todos no céu.
Talvez o seu cérebro apenas tenha tido um apagão repentino e ele tenha mergulhado nesse abismo escuro que é o inconsciente com os seus instintos.
Talvez a vida lhe desse medo, e ele quisesse ir embora com mais gente.
O horror e a tristeza tomam conta de quem lê as notícias, não há como não ficar estarrecido com a tragédia inútil e cruel.
Mas também não há como não se perguntar:
“Ele parece ter sido diagnosticado como doente mental há quatro anos, no mínimo. Nesse tempo, que recursos teve disponibilizados para os vários momentos do seu tratamento?”
Será que sua doença foi identificada precocemente em uma UBS? Será que ele fez parte do Programa de Saúde Mental da ESF e do Ambulatório de Saúde Mental e foi matriculado prontamente na rede de CAPS disponíveis em sua cidade? Quando se percebeu que as tensões estavam se acumulando dentro dele (aproximava-se a data de aniversário de morte do pai, tivera uma difícil reunião com a Diretora da Creche, dissera alguns dias antes à família que logo se mataria, e certamente mais outros sinais de alarme), terá sido internado em um leito disponibilizado para doentes mentais dentro do hospital geral de Janaúba? Depois de controlados os sintomas e antes de voltar ao trabalho e à família, terá sido hóspede de uma Residência Terapêutica, como prega o plano do Ministério da Saúde?
Desgraçadamente, parece que nada disso existe, além de no papel…