2e2p1x
“Um tempo,
Longo,
Existe pra espera.
Um outro tempo,
Fugaz,
Existe pro encontro.
Um outro ainda,
Cruel,
Existe pro adeus.
No meio,
Intenso,
Existe o amor!”
Nesta noite a saudade era ardida, intensa, doía como ferro em brasa apertado na carne. Era uma saudade egoísta que exigia a pele, o cheiro, a voz…
Hoje escrevo esta coluna, de novo cheia de saudade e de dor; já me conformei com esta montanha russa endoidecida, sem rumo, que joga a gente pra todos os lados e rouba o fôlego num grito mudo de desespero.
Ontem sonhei com um velório bonito, silencioso, solene, ao qual eu assistia meio à parte, meio escondida, como se não pertencesse ao ambiente, como se não tivesse nada que ver com ele; no entanto, eu chorava baixinho pelo morto, pela família, até me dar conta de que eu chorava, mesmo, era por mim.
Ah, os sonhos, estes diabinhos noturnos que assombram as salas cheias de penumbras e silêncios da casa que construímos laboriosamente sobre as nossas perdas…
Eles nos atiram, às vezes sem gentileza nenhuma, no centro mesmo da dor.
Nem mesmo preciso de um terapeuta, nem de nenhum livro de Freud ou Jung pra receber o recado do meu sonho: existe ainda uma parte de mim que faz o que pode pra “esquecer” que perdeu um grande amor. O sonho me relembrou da perda.
Pudera que hoje a dor se parece com a de tempos atrás…