Em Itajubá, a campanha Maio Laranja ganha força com ações voltadas à conscientização e proteção de crianças e adolescentes contra a violência. O movimento, que tem alcance nacional, busca sensibilizar a sociedade sobre a importância de identificar sinais de abuso e garantir que as vítimas tenham voz e apoio. A iniciativa, embora destacada em maio, é um esforço contínuo, como reforçam a juíza da Vara da Infância e Adolescência de Itajubá, Dra. Maria Fernanda Manfrinato, a psicóloga Cibely Salomon e a graduanda em Pedagogia Janaína Lemos. 6i432p
A campanha em Itajubá nasceu a partir da experiência de Janaína Lemos e Cibely Salomon, que trabalharam na instituição Anjo Acolhedor, lidando diretamente com crianças em situações de vulnerabilidade. “Todo o conhecimento que adquirimos e as dores das crianças que conhecemos não podem ficar adormecidas. Precisamos ser voz ativa na proteção delas”, afirma Janaína. A campanha Maio Laranja, instituída em referência ao caso de Aracelli, vítima de um crime em 1973 que ficou impune, reforça a necessidade de dar visibilidade a esse tema delicado.
Dra. Maria Fernanda Manfrinato explica que a violência contra crianças e adolescentes vai além do abuso físico ou sexual, abrangendo também a violência psicológica, muitas vezes decorrente de situações de violência doméstica. “A criança que presencia o pai agredindo a mãe, por exemplo, sofre violência psicológica, que é difícil de detectar e romper”, destaca. Ela aponta que cerca de 80% dos casos de violência ocorrem dentro de casa, o que torna ainda mais desafiador para as vítimas buscarem ajuda, já que os agressores frequentemente são pessoas próximas, como familiares.
Cibely Salomon enfatiza a importância de observar sinais que indiquem sofrimento nas crianças. “Elas podem não verbalizar, mas expressam a violência por meio de comportamentos, como agitação, isolamento ou marcas físicas. É essencial acolher sem julgar, sem questionar de forma que intimide, para que a criança se sinta segura para falar”, explica a psicóloga. Janaína complementa, destacando o papel da sociedade: “O silêncio protege o abusador. Precisamos estar atentos e agir para proteger as crianças.”
As escolas têm um papel crucial nesse processo, como reforça Dra. Maria Fernanda. “Os professores são aliados fundamentais, pois é na escola que a criança pode dar sinais de que algo está errado, como mudanças de comportamento ou marcas no corpo.” Ela ressalta a importância da Lei do Depoimento Especial (13.431/2017), que garante que crianças e adolescentes sejam ouvidos de forma técnica, sem revitimização, em um ambiente seguro e sem contato com o agressor.
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é um dos principais canais de acolhimento em Itajubá, onde denúncias são recebidas e tratadas com cuidado para proteger as vítimas. “O CREAS faz a primeira escuta, que não é para coleta de provas, mas para entender a situação e definir como proteger a criança”, explica a juíza. Quando necessário, o caso é encaminhado à delegacia e ao judiciário, onde o depoimento especial é realizado por uma equipe técnica capacitada.
A campanha Maio Laranja também alerta para a normalização da violência em alguns contextos familiares, o que dificulta a denúncia. “Para algumas crianças, apanhar ou sofrer abusos é visto como normal porque cresceram nesse ambiente. Precisamos quebrar esse ciclo”, alerta Cibely. Janaína reforça: “É melhor uma denúncia equivocada do que uma criança sofrendo em silêncio.”
A iniciativa em Itajubá, liderada por vozes como as de Dra. Maria Fernanda, Cibely Salomon e Janaína Lemos, destaca que a proteção de crianças e adolescentes é uma responsabilidade coletiva. “Ouçam o silêncio das crianças, observem os sinais e busquem os canais de ajuda, como o CREAS. A palavra da criança vale, e ela precisa ser ouvida”, conclui a juíza. A campanha segue mobilizando a comunidade para que a proteção seja uma realidade durante todo o ano.