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Estes convites são feitos às vezes com um ano ou mais de antecedência, o que não deixa de trazer problemas, vez por outra. Por exemplo: exatamente no mesmo fim de semana a Faculdade de Medicina, tempos depois do convite aceito marcou a Semana Médica, o evento mais esperado pelos alunos.
E o mais esperado por mim, também, em especial neste ano. Deixei de fazer o Curso de Dor e deixei de ouvir o Dr. Samir, nosso ex-aluno, na sexta feira à noite. Uma aluna ontem me escreveu dizendo que ele fez uma homenagem muito emocionada e carinhosa ao Marco.
Perdi… O abraço gostoso dele, a sua fala que sempre me encanta, e perdi ainda ao não ouvi-lo falar do Marco.
Em Belo Horizonte eu fui falar sobre aquele momento terrível em que o doente, a família e os profissionais sabem que a morte está chegando. Terrível porque a esperança se vai, terrível porque a dor recrudesce e a perda se anuncia sem mais dúvida, terrível porque é preciso tomar decisões muito difíceis…
O doente quer ser reanimado, quando ocorrer a parada cardio-respiratória? Quer ser entubado e ir para a UTI? Quer morrer em casa? As tentativas de alimentá-lo ainda estão surtindo efeito? O soro na veia ainda faz sentido? Ele sente dor? Está confortável? A família está ando bem o momento?
Quando eu montava a aula, algum tempo antes, não havia meio de não me lembrar destes momentos com o Marco. Tanto as lembranças me perseguiam, que eu acabei por montar a palestra baseada na minha experiência com ele, e não com os outros inúmeros doentes que eu já acompanhei nestes momentos.
À medida que se aproximava o Congresso eu me sentia temerosa; de repente achei que não daria conta ainda de falar tão claramente sobre o meu sofrimento e o dele. Mas eu também me lembrava do quanto ele se dispunha a falar de si mesmo e da sua experiência quando precisava ensinar algo a alguém.
Fui em frente! A minha voz fraquejou muitas vezes, parei de falar por uma fração de segundo, às vezes, pra respirar fundo quando as lágrimas subiam aos olhos, mas emocionei e fiz chorar de saudade e de carinho muita gente que me ouvia.
Choro bom, esse, o meu e o das outras pessoas. São a homenagem mais preciosa que se pode prestar a alguém como ele.
E, de quebra, voltei com uma placa de prata com dizeres lindos sobre ele.
Ela está agora, enquanto escrevo, aberta na mesa do escritório e em frente à cadeira vazia dele!
Eu quase posso ouvir o seu riso de alegria.