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Embora domingo seja exatamente o dia em que eu faço uma das coisas de que mais gosto: cozinhar!
Lá pelo meio dia vou pra cozinha. Escolho o vinho, deixo a taça na mesa, bem à mão, e começo o que pra mim é a mágica de cozinhar…
Ingredientes distintos, sabores diferentes, cheiros e cores particulares, formas exóticas às vezes, e no fim tudo se harmoniza num festival de sabores.
Um dia tudo fica muito gostoso, no outro a mão do tempero veio errada (ninguém percebe, só eu), e comer o que cozinhei é o prazer de todos.
Minha netinha Sofia, 8 anos, em plena idade do “não quero, não gosto”, muitas vezes diz de repente: “adoro a comida da vovó”. E come bem, que criança não mente…
Domingo, casa cheia, riso de criança, latido de cachorrinha enciumada pela perda do status de única, dia em que eu só chego perto do computador pra escrever a coluna da semana…
E por que a tristeza, então?
Por que, logo abaixo da alegria no rosto, tem uma lágrima escondida todo domingo?
Por que essa vontade de me recolher, de ficar quieta, essa nostalgia meio sem nome e sem endereço?
Não é difícil responder: o domingo era o nosso dia inteiro de preguiça, de namorar, de não ter hora nem pro almoço, de cozinhar com ele picando os temperos (ele nunca decorou o tamanho da cebola picada de ensopado e de assado), enchendo de novo as taças de vinho.
E ele esperava com ansiedade pelo almoço; ele era o maior fã da cozinheira…
Sempre foi ele quem lavou a louça, e aí era eu quem ficava meio à toa na cozinha, em volta dele, conversando.
Às vezes ficava mesmo só olhando, sem falar.
É, deve ser por isto: no domingo a saudade tem cheiro e gosto!