2e2p1x
Talvez porque vi a cadela dos meus filhos andando com dificuldade na minha direção, para me receber na sua casa.
Talvez porque todos nós saibamos que ela está morrendo devagar.
Talvez porque o seu olhar hoje estivesse particularmente triste e meigo; talvez por que ela tenha inclinado a cabeça quando lhe fiz carinho, como se me dissesse que gosta de cafuné.
Talvez por que ela tenha sido sempre uma companheira alegre, atenta e cuidadosa há exatos 15 anos, desde que meu filho ouviu um ganido fino quando voltava para casa em Florianópolis. Ela tremia e tinha fome. Por alguns dias ele temeu que ela não sobrevivesse, mas ela se tornou uma linda cadela.
Talvez porque eu me lembre sempre que um dia ela foi atacada com uma faca quando protegeu o meu filho de um ladrão.
Talvez porque (e acho que agora acertei) eu veja nela todas as mortes que tenho vivido nesses tempos tristes de hoje em dia…
Aí me lembrei desse texto que escrevi há alguns anos:
Então, meu senhor,
Estamos sozinhos agora
Como se a solidão fosse a regra.
E não é?
No berço e na cova
Ninguém nos acompanha
Nem segue junto…
Então, meu senhor,
Estamos sozinhos sempre,
Não é?
Hoje estou melancólica.